terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Ficou uma porcaria mas serve, pelo menos, para tirar a poeira

Não sei como o escrever "Sed multum longo interuallo sunt ista simili; nec tota enim simul sonat quaelibet uox, quia per tempora tenditur et producitur et aliud eius prius sonat aliud eius prius sonat aliud posterius, et omnis uisibilis tamquam intumescit per locus Nec ubique tota est." já o dizia o Hiponense.

Somos uns bichos estranhos, fomos dotados de um objecto que nos faz dominar todos os outros animais mas que, ao mesmo tempo, nos cria uma grande fraqueza. Com ela descobrimos os segredos da natureza e através dela descobrimos a nossa efemeridade e a nossa solidão.

Neste momento estou sozinho a passar uma mensagem que nada mais é que uma parte ínfima daquilo que eu quero expressar e que vai ser transformada naquilo que alguém quer entender, vai ser "a dor lida que eles têm" como dizia Pessoa na sua Autopsicografia.

Criámos um Deus que apenas serve para não borrarmos as calças na hora da morte, para podermos viver sem medo dela, para nos podermos resignar, para nos ajudar a organizar politicamente, para podermos abusar santamente dos outros. A esta certa conclusão chega Unamuno (ainda não percebi como, depois dela, ele ainda consegue, ou melhor, conseguiu continuar católico).

Agora, tal como Evódio (antes de ter sido convencido por Santo Agostinho de que o livre arbítrio era um bem) vou perguntar-vos se a razão é um bem? Dir-me-eis certamente que sim, e eu concordo com isso, é através dela que conseguimos dominar (e destruir) o mundo. Somos os únicos que recebemos o ser o viver e o entender, é por este último que dominamos o mundo mas também somos dominados pela nossa condição de vivos.

Aquele que num documentário mandou para "a puta que os pariu" a nova geração de escritores portugueses, quando lhe tinha sido pedida uma frase de estímulo para os ditos, Luiz Pacheco, escreveu numa singela carta a uma companheira que gostaria que ela se lembrasse dele dali a cem anos, mas presumia que ela nem sequer se lembrava daquilo que tinham feito. Nem dele se lembrava no presente. Se ninguém se lembra de mim enquanto entendimento como será quando for apenas ser.

Muitos de nós começam a destruir o panteão tentar destruir os velhos ícones para se poderem instalar no Mausoléu. Seremos recordados como aqueles que IMITARAM.

Ora foda-se (para aproveitar a boleia de Pacheco)!!!

Não fazemos nada mais, nada menos do que imitar. Clarificamos discursos anteriores muitas vezes com grande sageza, contudo, como dizia Kant, temos todos a mesma estrutura de pensamento, é naïf quem pensa que inovamos muito. Citando alguém "não passamos de um anão em cima de um gigante."

E agora que fazemos? Exultemos e jubilemos, afinal de contas ninguém está bem com o que tem, se tivéssemos a eternidade achávamos uma merda (já estou a abusar) porque não dava para sentir o terror de ter de aproveitar o tempo. Como dizia Homero "os deuses invejam-nos porque somos mortais", deuses antropomórficos que tinham essa coisa feia, a inveja, como nós temos quando nos comparamos, se aquele sofre eu quero sofrer. Se eu não sofro sinto-me mal por isso, se estou feliz arranjo logo problemas para ficar triste, não estamos bem de maneira nenhuma porque se estivermos bem aborrecemo-nos desse estado. Queremos sentir-nos vivos.

O melhor é viver o nosso contentamento descontentes e descontentar-nos contentemente.

3 comentários:

Лев Давидович disse...

Na página dos comments, em que me encontro, aparece o título do post.
Começa aí a minha discordância.
A restante vem já a seguir.
Se é verdade que o comportamento é, tendencialmente, como mostras, ou seja, ninguém está contente com o que tem. Os deuses idem.
Isso não passa de ser humano. Tem um nome: ambição, ambição essa que tem como corolário as constatações de facto que culminam no teu texto.
Acredito, todavia, que há fases da vida em que sentimos o apogeu, para depois se dar o declínio.

J.M.P.O disse...

Confesso-te que estive pelo menos uns vinte minutos a olhar para o teu comentário sentindo a necessidade de te responder e ao mesmo tempo sem saber o que te dizer. Depois de ter tentado criticar o que tu dizes e o que eu escrevi comecei a criticar ambas as ideias mais a minha do que a tua, no vai e vem esquizofrénico de “verdadeiros e falsos” que me fazem merecer o apodo de chato.

Sim, tens razão, chamar-se-á ambição, eu prefiro chamar-lhe vontade, que para nos fazer chegar ao céu nos faz viver a humana tragédia, mas não menos razão pareço ter eu.

Uma vez chegados àquilo que queremos, a estagnação e a repetição aborrecem-nos, ou na esperança de que melhor há-de vir ou pelo puro descontentamento com a situação vivida.

O título do post faz justiça ao conteúdo, estou a tentar um raciocínio sem ter uma base conceptual sólida e um método, o que faz com que eu não consiga levar a bom termo aquilo que começo.

Obrigado pelo comentário.

Luis Carlos Batista disse...

É sem qualquer condescendência que digo: belo post! Digno de ocupar os existencialistas, os religiosos, ou simplesmente os tipos que, como eu, não sendo nem um nem outro, têm tempo para andar a passear na blogosfera e mandar uns bitaites!
E se não passarmos de sombras neste mundo? De sopros? Será que somos menos indignos de o povoar e de absorver o que ele nos dá?
E depois tens o Buda, com as suas cinco verdades (acho que são cinco, sim), que te diz que o nosso sofrimento passa justamente por darmos importância ao que menos interessa. O problema é que nos dias de hoje um gajo que se isole para atingir o nirvana arrisca-se a perder o emprego.
E tens ainda Shiva, com a sua dança da criação, mais os que dizem que tudo é matemático e tudo dança com Shiva, pulsa ao seu ritmo.
E fica novamente a pergunta: será que somos sombras?