segunda-feira, 2 de junho de 2008

A Nação do regime

No nosso país, principalmente a partir do séc. XVI, na sequência de um normal movimento iniciado com a formação do Estado, tem havido, cada vez, mais um reforço da centralização. Esta centralização faz com que raramente se tenham vivido momentos em que alguém possa ser ou fazer algo com independência em relação aos poderes instalados.

Hoje em dia, por exemplo, as antigas empresas públicas de importante dimensão económica são comummente administradas por pessoas que de algum modo estiveram ligadas ao governo. Estas mesmas sociedades antes de serem nacionalizadas viviam, também, na sombra do governo. Por cá não temos só os administradores do regime, mas, como dizia à pouco tempo um grande Professor, também temos os humoristas do regime, os comunicadores do regime …


Este problema, verbi gratia no caso dos humoristas não é muito mau. Normalmente estas pessoas aliam ao facto de estarem na moda a originalidade e a qualidade daquilo que fazem. O que me preocupa é a notícia da moda e os jornalistas do regime. Quem não é publicado por aqueles "donos da verdade", de referência ou não, que publicam em papel ou através da radiodifusão, tem de se reduzir ao silêncio. Caso contrário será atacado pelos gazeteiros do regime ou se quiserem "da moda". Este escrito vem na sequência de uma maravilhosa reportagem que a SIC engendrou. Quem assistir àquela maravilhosa peça até se esquece da porcaria de jornalismo que, no geral, encontramos em Portugal. É verdade! Vê-se por vezes uma vontade de manipular e uma desonestidade que dão vómito. Vêm-se notícias tão imprecisas e tanto bitaite que muitas vezes aquilo que as separa da mentira é muito pouco. Criticou-se, na reportagem supra-citada, a calúnia feita através de blogues mas não se atentou numa outra diferença entre a calúnia do blogue e a que é feita pela televisão e pelos jornais. Os blogues são lidos, normalmente, por um público mais restrito e geralmente menos embrutecido do que aquele que vê televisão e lê jornais. Realmente é mais difícil saber quem escreveu uma calúnia num blogue mas é corrente, pelo menos nos casos mais mediáticos, os próprios bloggers levantam o seu anonimato quando são acusados. Quando a informação da moda é Ré por ter dito mentiras, proferido calúnias ou devassado "gratuitamente" a vida de alguém , nos jornais e telejornais, vitimiza-se e grita "aqui D'el Rei quem me acode" que estão a violar a liberdade de expressão. No entanto são eles próprios que matam essa liberdade ao incitarem a populaça a sancionar os blogues. Esta forma de sanção (a "sanção popular" ou "social") é, como já muito tempo notou John Stuart Mill e outros antes dele, a mais poderosa forma de sanção e estes meios de comunicação sabem que têm poder para a decretar.


A grande novidade, inaudita até, que a reportagem vem trazer é a de que a internet facilita a organização criminosa. Nunca ninguém tinha reparado nisso, assim como nunca ninguém reparou que a melhoria em geral dos meios de comunicação serve, não raras vezes, também para isso. A reportagem incita à pressão social para criar uma sociedade Orweliana onde um Big Brother de bigodes possa controlar e saber de todos os passos que são dados pelas pessoas… Para além dessa incitação, abre as portas à legitimação de quaisquer medidas legislativas nesse sentido... Não há nessa sociedade paternalista ou mesmo totalitária, aparentemente segura, uma violação de TODOS os direitos fundamentais?

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