Esta ideia de deus, figura de suprema justiça, legitimar o direito, parece, contudo ser contrariada na antiguidade clássica nomeadamente na Grécia. Apesar de, infelizmente, não ter tido acesso ao texto original grego (e mesmo que tivesse o meu grego já vai longe e a minha filologia é miserável), Ésquilo no Prometeu Agrilhoado dá-nos uma percepção interessante, que pode ser explorada, e que de certa forma nos leva a reinterpretar a posição de certos autores, como Sebastião Cruz, que identificam a justiça e o direito com os deuses, como sendo duas faces da mesma moeda.
Durante o diálogo com as Oceânides e com o Oceano, Prometeu demonstra a injustiça de Zeus (Ζηώς) e, ao mesmo tempo, diz que o direito está do lado do Crónida. De facto a deusa da justiça, na Grécia era Diké (Δική) sendo que também a Moira (destino, que corresponde às 3 Parcas Latinas) não estava (digo isto apesar de a questão ser debatida entre os helenistas) submetida à ordem de Ζηώς. Este deus tornar-se-á justo ao longo do tempo ("um soberano novo é sempre tirano"), à medida que vai sendo experiente e ganha prudência, vai sendo ensinado pela dor e, parece-me, que se vai tornando justo através da capacidade para equilibrar as dores que os outros sofrem pelo facto de já as conhecer. Isto não acontece em Roma, jus terá origem em Júpiter que parece controlar as Parcas.
Sem comentários:
Enviar um comentário